

Celso de Oliveira*
Ainda que localizado no interior do estado e considerado pequeno, com menos de 100 mil habitantes, o município de Telêmaco Borba é essencialmente urbano. O último censo do IBGE (ainda de 2010) apresentava mais de 22 mil domicílios urbanos e apenas 579 domicílios e menos de 1.500 habitantes na zona rural. Em grande parte pelas características de sua constituição, que se originou a partir de um povoamento em torno da grande empresa de papel e celulose instalada antes mesmo da existência do povoamento. A zona urbana cresceu confinada dentro de uma área rural reflorestada. Mais de 90% da área do território pertence à maior indústria da região, o que limita a expansão de outras atividades rurais.
Este cenário expõe a vocação do município, que cresce em torno do plantio de florestas e conversão em papel e celulose. Houve uma tentativa, exitosa por vários anos, da criação de um distrito industrial com base na indústria madeireira. Mas relatos recentes dão conta de uma dificuldade na obtenção da matéria-prima, concentrada em poucos fornecedores, que detém o controle da oferta, entre outros problemas. Com base nesta realidade, algumas tentativas por parte de lideranças locais e poder público, como o incentivo ao turismo, aos pequenos empreendedores, tentam alternativas viáveis na busca de diversificar os empreendimentos locais.

Defendo a ideia de um caminho viável para o município e que eleve seu PIB, melhore a distribuição da renda e ofereça postos de trabalho mais qualificados e melhor remunerados deve passar pela implantação de um polo tecnológico baseado no desenvolvimento de softwares. Diversos argumentos sustentam esta tese.
O primeiro argumento é a ausência de competição por área rural, evitando o desnecessário conflito com a maior geradora de riquezas para a região. Empresas de Tecnologia da Informação não requerem extensas áreas de terra, ao contrário podem ser acomodadas tranquilamente na área urbana do município, e até mesmo com parte de sua produção em home office.
Outro argumento forte é a estrutura educacional pública e privada existente em Telêmaco Borba. A presença de instituições como o Instituto Federal do Paraná, de um campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa, de uma planta altamente técnica do SENAI, da Faculdade de Telêmaco Borba, em fase de transição para Universidade, os polos de diversas universidades EaD renomadas, além da possibilidade de oferta na área tecnológica dos itinerários para o novo ensino médio, fazem crer que falta apenas articular este viés tecnológico. Sem contar a sinalização do atual governo estadual em estimular o desenvolvimento tecnológico do Paraná, desde o esforço para conectar startups com a indústria à oferta de fomento para o setor.
Não é preciso dizer que não mais o futuro, mas o presente tem uma demanda imensa por profissionais qualificados, na área de tecnologia da informação e comunicação. Se perdermos o bonde da história, alternativas serão encontradas pelo mercado, tais como a “importação” de técnicos estrangeiros ou mesmo o que já está em curso, com a contratação à distância de equipes internacionais qualificadas via home office.
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Então o que precisa ser feito? Defendo que é preciso mobilizar as lideranças locais, sejam políticas, comerciais, educacionais ou de empreendedores para discutir um formato viável. A estrutura educacional, com poucas adaptações, poderá ofertar cursos até em nível de doutorado nesta área. Mas é preciso construir uma cadeia produtiva, canais de contato entre startups e investidores, criar programas de fomento e utilizar os já existentes. Enfim promover um ambiente, um “ecossistema” que respire tecnologia, desde sediar eventos da área a promover capacitações de empreendedorismo, criar e divulgar uma imagem tecnológica da cidade e buscar parceria com algumas empresas âncora.
E não bastam iniciativas isoladas ou amadoras, na base do “vamos tentar”. Encontrar parceiros experientes na área tecnológica, associações nacionais, clubes de empreendedores… enfim, construir um projeto de longo prazo, com etapas, metas, estratégias, gerando os resultados esperados. O benefício será o incremento econômico de qualidade para a Telêmaco Borba e seus munícipes. Este artigo, ainda que singelo, pretende ser o gatilho desta ideia.
(*) Celso de Oliveira é consultor de políticas educacionais municipais. Atuou em programas do Ministério da Educação, CEE/PR, professor do IFPR e na presidência da UNDIME-PR. Graduado na área de Tecnologia da Informação, desenvolve projetos de plataformas educacionais e de treinamento para empresas.