

Celso de Oliveira*
O Brasil apresenta, segundo relatório do SEBRAE de 2017, uma elevada taxa de empreendedores iniciais (empreendimentos com menos de 2 anos de existência), superando países como Índia, México, China, Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha, Itália e África do Sul, apenas para citar os mais relevantes.
No entanto, o país apresenta dificuldades mastodônticas em gerar empregos e distribuir suas riquezas. Certamente existem muitas explicações e fatores para esta situação. Mas quero me ater ao fator educação de nossa gente, e como isso se desdobra em nossa presente realidade econômica.
Ainda que os empreendedores nacionais criem oportunidades acima da média, existe uma dificuldade em sustentar estes empreendimentos a médio e longo prazo. O mesmo relatório apresenta dados que explicam esta situação. O valor médio investido em dólares em cada empreendimento inicial no Brasil era de U$ 1.400,00 em 2017, contra mais de U$ 13.000,00 na China e acima de U$ 16.000,00 nos Estados Unidos. Países como França e Espanha investem acima de U$ 20.000,00 e a Alemanha chega a ultrapassar, em média, os U$ 43.000,00 no primeiro ano de um empreendimento. Nem é preciso dizer que a chance de sucesso em um empreendimento com solidez de recursos é um fator extremamente sensível no êxito de uma empreitada.

Além dos recursos necessários, existem fatores como a inovação e a tecnologia agregada ao produto ou serviço oferecido pelo novo empreendimento. E aqui quero estabelecer um vínculo entre o sucesso de um empreendimento e o conhecimento que agrega valor ao produto ofertado. Enquanto 8,1% dos novos empreendimentos brasileiros apresentam-se como novidade para o mercado, China e Estados Unidos apresentam índices acima de 14%; a Itália chega aos 30% e a Índia passa dos 40% em inovação, para novos empreendimentos. Em relação ao uso de tecnologia agregada aos produtos com menos de um ano de mercado o cenário se repete. No Brasil os empreendimentos que incluem tecnologia não chega a 1%, enquanto que Estados Unidos e China este índice é dez vezes maior. A Índia é o maior agregador de tecnologia em seus novos empreendimentos, superando os 30%.
Segundo o relatório do SEBRAE (2017) “a maioria dos empreendedores brasileiros entra no mercado oferecendo produtos muito simples, principalmente voltados ao atendimento das necessidades básicas de mercado interno”. Esta constatação decorre também porque o país é o que apresenta o menor índice de clientes no exterior em novos empreendimentos.
Em suma, somos um país altamente empreendedor, com muita iniciativa, porém com empreendimentos de baixa qualidade, pouco valor agregado, pouco uso da tecnologia e baixo investimento financeiro inicial. A baixa qualidade da educação ofertada pelo país, desafinada com as demandas do mundo atual, com dificuldades em conhecimentos básicos de raciocínio matemático e interpretação de textos, cria um efeito em cascata, reduzindo drasticamente as chances de acúmulo de conhecimento mais elaborado, maior capacidade de abstração e compreensão de conceitos refinados. Um dos reflexos é a baixa qualidade dos novos negócios, além do baixo número de patentes em produtos viáveis.
Um sinal claro deste descompasso educacional do país está relacionado com a oferta e demanda de profissionais ligados a área tecnológica. Segundo matéria da revista PEGN, de junho de 2019, estima-se que metade das 70.000 oportunidades criadas até 2024 no segmento de tecnologia não serão preenchidas por falta de qualificação.
(*) Celso de Oliveira é consultor de políticas educacionais municipais. Atuou em programas do Ministério da Educação, CEE/PR, professor do IFPR e na presidência da UNDIME-PR.
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